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A
Vemag foi a primeira fábrica a colocar um veículo nacional nas ruas
em novembro de 1956, a perua DKW Universal F-91, mas foi também a
primeira a desaparecer no final de 1967.
A
Vemag diferenciava-se das outras fábricas por ser a única empresa
com capital absolutamente nacional, não tendo um “do Brasil” ao
final da sua razão social; era simplesmente Vemag. Seu parque fabril
e ferramentaria foram considerados um dos maiores da América do Sul;
em 1964, possuía 4.013 operários com a produção de 12.144 veículos,
além de instalações com 87.140 m² de área construída. Em 1965 sua
produção chegou a 12.260 veículos e no ano seguinte o índice de
nacionalização de seus veículos era de 99,967%.
Estes
números davam conta de uma empresa estabilizada e lucrativa, cujos
produtos obtinham aprovação do público devido à adequação às
condições brasileiras. Entretanto, existiam problemas
administrativos e dívidas contraídas para viabilizar sua produção. O
fato de ser uma empresa nacional a deixava numa situação complicada
quando necessitava de investimentos ou em momentos de crise, porque
não podia contar com a cobertura de uma matriz no estrangeiro. Isto
também a tornava vulnerável à instabilidade econômica e à inflação
que desvalorizava seu capital e dificultava as vendas de carros
novos. Outro fator estaria na falta de experiência dos seus
dirigentes na área da indústria automobilística: até 1961, foi
presidida pelo seu fundador, Domingos Fernandes Alonso. Então, em
plena crise da renúncia de Jânio Quadros, a presidência da empresa
passou a Lélio de Toledo Piza, genro de Alonso; ou seja, era uma
grande empresa com administração basicamente familiar. Consta também
que a publicidade dos veículos DKW-Vemag se mostrava tímida na
exaltação das suas qualidades, como robustez e economia, abrindo
espaço para os concorrentes.
Porém, seu maior
problema estava na dependência da licença de produção dos veículos
DKW do grupo Auto Union alemão. Consta que, apesar de ter sido
representante da Studebaker norteamericana por anos, a Vemag
preferiu buscar acordo com a Auto Union porque automóveis da marca
Studebaker não gozavam de boa fama entre os brasileiros ao final dos
anos 50. Talvez esta não tenha sido a escolha mais acertada, pois em
1956, quando a Vemag iniciou a produção da perua DKW Universal F-91
no Brasil, a Auto Union alemã ainda era uma empresa independente;
mas em 1958 foi absorvida pela Daimler-Benz (Mercedes-Benz) também
alemã, que prosseguiu a produção dos carros marca DKW na Alemanha.
Portanto, aí se iniciou um problema para a Vemag, pois a
Daimler-Benz também atuava no Brasil produzindo apenas caminhões e
ônibus Mercedes-Benz, enquanto que na Alemanha produzia, além de
carros de luxo de marca própria, automóveis DKW semelhantes aos que
a Vemag produzia sob licença no Brasil. Assim, como dona da marca a
Daimler-Benz poderia optar por produzir estes carros no Brasil ao
invés de renovar a licença de produção com a Vemag. Em 1963
circularam rumores na imprensa de uma possível unificação das
atividades da Vemag com a Mercedes-Benz do Brasil na produção dos
veículos DKW, mas isto era desmentido pela Vemag, que ao mesmo tempo
buscava outra empresa européia para firmar novo contrato de licença.
Ela teria entrado em negociações com a FIAT italiana para produzir o
modelo 1.500, mas esta não se interessou.
Em 1964 na
Alemanha, a Volkswagenwerk alemã adquiria a metade das ações da Auto
Union, tornando-se sua proprietária juntamente com a Daimler-Benz.
Para a Vemag, isto representou a incerteza na renovação da licença
de fabricação dos carros DKW no Brasil. A busca de novos contratos
de licença com outras empresas no exterior não prosseguia pela falta
de recursos financeiros para novos projetos na Vemag. Em agosto de
1966, o presidente da Volkswagenwerk, Heinz Nordhoff, declarou que o
motor de dois tempos DKW teria sua produção encerrada na Alemanha,
pois no seu parecer se tratava de um projeto sem futuro. Isto se
refletiu na Vemag brasileira: até 31 de agosto de 1966 havia 3.474
funcionários e em setembro o número caía para 3.406 empregados. No
mês seguinte seu Departamento de Compras foi fechado, sendo
dispensados em torno de 1.500 funcionários. A produção prosseguia,
porém lenta, mas a Volkswagen desmentia a descontinuidade dos carros
DKW na Vemag, que chegou a lançar sua linha para 1967 com algumas
modificações estilísticas. Em 8 de novembro de 1966, Lélio de Toledo
Piza, presidente da Vemag, anunciaria a associação da empresa com a
Volkswagenwerk; os estatutos da Vemag seriam reformulados e
reestruturava-se a diretoria, com o cargo de vice-presidente da
Vemag ocupado por Friederich Wilhelm Schultz-Wenk. Um ano depois,
foi definitivamente encerrada a produção dos modelos Belcar,
Vemaguet e Fissore. Parte do seu maquinário seria transferida para
empresa argentina Auto Motriz, que produzia carros Auto Union na
província de Santa Fé, cujo controle acionário fora negociado
anteriormente pela Volkswagen.
Assim sendo, a primeira indústria de automóvel
brasileira se transformaria num depósito de peças de reposição
importadas da Argentina para atender os carros DKW brasileiros por
alguns anos, além de abrigar departamentos e parte da produção de
veículos da Volkswagen, apagando definitivamente a marca DKW-Vemag
do cenário automobilístico brasileiro.
Fonte: O
Automóvel no Brasil entre 1955 e 1961: A invenção de novos
imaginários na era JK, de Ramon de Lima Brandão (UFJF, 20111)
Venda da VEMAG
Após a
venda da Vemag para a Volkswagen em 1967 seu ex-presidente Lélio de
Toledo Piza (1913-2008) foi nomeado pelo ex-governador de São Paulo
Abreu Sodré para a presidência do Banespa – Banco do Estado de São
Paulo. Nos idos de 1968, Lélio veio a Florianópolis para fazer uma
visita à agência do Banespa da cidade. Para apanhá-lo no aeroporto
Hercílio Luz, foi designado pelo Gerente da agência um funcionário
que a pouco tempo havia adquirido uma Vemaguet 1967 0 Km de cor azul
tramandaí, um azul bem clarinho. Ao desembarcar Lélio e o
funcionário se dirigiram ao carro para guardar as malas no porta
malas da Vemaguet. Ao chegar na Vemaguet, Lélio ficou muito
constrangido e deu um sorriso desconcertado. Embarcaram na Vemaguet
e rumaram ao centro de Florianópolis. Timidamente Lélio tomou a
iniciativa de começar uma conversa: - Bonita Vemaguet ! Ao que
respondeu o funcionário: - Pois é seu Lélio, eu acreditei na Vemag e
comprei esta Vemaguet 0 Km recentemente, pouco tempo depois vocês
venderam a Vemag para a Volkswagen e prometeram de que a fabricação
do DKW continuaria. Agora, estou com um carro semi novo
desvalorizado que ninguém quer. Lélio vendo o inconformismo do
proprietário da Vemaguet pediu que ele encostasse no acostamento e
disse-lhe:
- Vou lhe contar o que houve meu filho. Em 1964
fomos à Alemanha conversar com o presidente da Volkswagen alemã
Heinz Nordhoff, pois a Volks havia comprado da Daimler Benz o Grupo
Auto Union, que foi quem nos deu a licença para produzir o DKW no
Brasil por 10 anos. Chegando lá, ele nos avisou que a produção do
DKW seria encerrada na Alemanha e que a Volks não renovaria a
concessão para a Vemag, concessão que se encerrou no ano passado
(1967). Ele nos ofereceu a concessão dos carros da Audi, mas a Vemag
estava muito endividada e os carros DKW já não vendiam tanto no
Brasil, não tínhamos capital de giro para adequar o maquinário da
fábrica para a fabricação dos Audi, portanto a Vemag estava
inviabilizada comercialmente. Daí num domingo de 1966 eu estava no
Jóquei Clube de São Paulo onde também se encontrava o Presidente da
Volks do Brasil. Circulando entre os convidados se encontrava um
colunista social importante da cidade de São Paulo que veio me
cumprimentar e me perguntou se eu tinha alguma novidade sobre o
desfecho das negociações da Vemag com a Volkswagen. Eu respondi que
as negociações com a FIAT estavam concluídas e que todo o parque
industrial da Vemag a partir de 1967 passaria a produzir os carros
FIAT no Brasil sob o comando da FIAT. Na mesma hora o tal colunista
foi contar ao Presidente da Volks que ficou branco, pois eles têm
muito medo que a FIAT se instale no Brasil e prejudique a hegemonia
deles no mercado brasileiro. Na 2ª feira ele me ligou e chamou para
uma conversa em que fez uma proposta irrecusável pela Vemag, pois
com o montante pagaríamos todas as dívidas da Vemag e ainda saímos
com algum dinheiro para os acionistas da companhia. Se não tivesse
feito isso, eles teriam feito uma proposta ridícula pela Vemag.
Durante a negociação eles prometeram que por um período manteriam o
DKW em linha no Brasil, bem como suas peças de reposição, mas
infelizmente não honraram a palavra empenhada. Então meu filho foi
isto que aconteceu.
De fato, a Volks adquiriu a subsidiária
argentina que montava os DKW na Argentina para produzir peças de
reposição e entregaram a terceiros a fabricação das peças do DKW no
Brasil, mas as peças eram de péssima qualidade e isto eliminou mais
rapidamente os DKWs das ruas brasileiras.
A FIAT instalou-se
no Brasil na década de 70, em Betim - MG, e em 1977 lançou seu 1°
carro no Brasil o FIAT 147 que faria concorrência com o Fusca, carro
chefe da Volks no Brasil até o fim dos anos 70. E daí em diante a
história automobilística recente conta o resto, a FIAT conseguiu
superar em vendas a Volkswagen, e é líder de mercado há muitos anos
no Brasil com carros inovadores e bem acabados.
Depois de
comprar a Vemag em 1966, a Volkswagen comprou a Chrysler do Brasil
em 1980 e tirou de linha os Dodge nacionais: o Polara e a linha Dart
em 1981.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vemag
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