Projeto F103
Condensamos nesta página textos sobre o Projeto F103, código interno usado pela Auto Union para designar a transformação do derradeiro modelo DKW, o F102, naquele que viria a ser o primeiro Audi do pós-guerra. |
Audi F103, por Paul Markham Em 1962 a DKW lançou seu novo modelo, o F102. Após as decepções do F11 e F12, o F102 era um bem-vindo retorno à produção. Um grande sedan familiar de estilo contemporâneo, o carro foi um grande passo longe da herança dos pequenos carros da DKW. Era movido por um novo motor de 1176cc, 60 cavalos de potência, três cilindros, dois tempos. As vendas da DKW, que estavam diminuindo há vários anos, começam a crescer. O lançamento do F102 coincidiu com mudanças significativas na Auto-Union. Em 1964, a Mercedes-Benz, que tinha uma participação de 87% na empresa, vendeu a sua participação para Volkswagen. A Mercedes-Benz tinha sido, em grande parte, um simples acionista, raramente interferindo com a administração da Auto-Union, exceto ao alienar da empresa o braço fabril deficitário das motocicletas DKWs para a Zweirad Union. A Volkswagen, no entanto, estava ansiosa por fazer mudanças na Auto-Union. Os planos já estavam em andamento sobre o sucessor do F102, incluindo os testes de um novo motor de 1300cc de dois tempos. Motores de automóveis de dois tempos oferecem uma série de vantagens naturais. Sendo simples na sua concepção, com poucas partes móveis, eles eram baratos de construir e de fácil manutenção, pouca manutenção necessária, entrega de alta potência para o seu tamanho e tinham baixo consumo de combustível. No entanto, estas vantagens foram progressivamente desaparecendo à medida que o deslocamento dos motores aumentava. |
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O motor de 1176cc
do F102 patinou nos limites da eficiência de um dois-tempos. O motor de
1300cc, contudo, não conseguiu. Para entregar o aumento de potência
prevista, a eficiência comburente ficava comprometida. Isso poderia ser
compensado com injeção de combustível, mas isto aumentava o consumo. Os
limites naturais dos dois-tempos tinha sido atingido. Embora o carro fosse basicamente um DKW com um motor de quatro tempos, a Volkswagen optou por fazer uma ruptura completa com o passado. O nome DKW foi abandonado e a marca Audi, que não tinha fabricado um carro desde 1938 foi ressuscitado. O folheto abaixo faz a introdução do novo carro, pula inteiramente os anos DKW do pós-guerra, não mencionando a marca DKW sequer uma vez e apresenta o novo Audi totalmente formado, desprovido de suas verdadeiras origens ....
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Esta era a mensagem chamariz na capa do catálogo do primeiro Audi do pós guerra.
Clique sobre a imagem a esquerda para visualizar o catálogo completo.
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Texto original: http://heinkelscooter.blogspot.com.br/2013/10/audi-f103.html
Conexão com a estrela de três pontas 1958 –1964, extraído do livro "Quatro Anéis - A História da Audi" |
A empresa
O tempo pressionava: as vendas dos modelos DKW de grande porte caíam visivelmente e, embora o Júnior fosse vendido em grandes quantidades, um carro tão pequeno não podia gerar os lucros necessários. William Werner concordava que o motor de quatro tempos tinha melhores perspectivas de longo prazo, mas a Auto Union, por enquanto fiel ao de dois tempos, propôs que se aguardasse um pouco mais antes de introduzir um modelo que o sucedesse.
O grupo de Stuttgart se irritou com o que considerou uma tática de retardamento; choques, censuras mútuas e a recusa em ver o ponto de vista do outro começaram a destruir a relação com a matriz. A Daimler-Benz decidiu então concentrar-se mais nos modelos de luxo e nos veículos utilitários, o que por sua vez levou à decisão de novamente vender a Auto Union.
A empresa de Stuttgart permitiu por outro lado
que o gerente técnico geral Ludwig Kraus, nascido em Pfaffenhofen, perto de
Ingolstadt, permanecesse no cargo que ocupava; nos anos seguintes, ele se
revelaria uma inovadora “arma secreta” nas mãos da Volkswagen.
As vendas despencaram bruscamente, e a participação da empresa no total de emplacamentos caiu de 7,2 por cento em 1961 para 3,7 por cento em 1964.
Em outubro de 1963 a empresa de Stuttgart indicou para o cargo de diretor técnico de Ingolstadt o engenheiro dr. Ludwig Kraus, chefe de seu departamento de pré-desenvolvimento de automóveis de passageiros. Kraus chegou com novidades, em especial um motor de quatro tempos e quatro cilindros oriundo do departamento de desenvolvimento da Daimler-Benz.
Um novo perfil para os Quatro Anéis, extraído do livro "Quatro Anéis - A História da Audi"
Incorporação e fusão - VW, NSU e
as“afinidades eletivas”
Quando o mandato de Adenauer como chanceler
terminou, Ludwig Erhard, pai do milagre econômico, assumiu o posto, mas sua
gestão não foi plenamente bem-sucedida. Em vão, Erhard apelou por moderação;
acabou desistindo e abriu caminho para uma grande coalisão entre os dois
principais partidos políticos do país.
O desenvolvimento do F 103 – correspondente ao
DKW F 102 com um novo motor de quatro tempos e taxa de compressão média –
prosseguia a um ritmo frenético, mas era impossível prever quando as
primeiras unidades chegariam às revendas, e muito menos se os consumidores
as aprovariam. A situação precária da fábrica exigia uma solução urgente, e
quem a trouxe foi o Fusca (VW Beetle): entre maio de 1965 e 4 de julho de
1969, entre 300 e 500 Fuscas foram montados na fábrica de Ingolstadt. Ao
todo, foram produzidas 347.869 unidades desse modelo. A sábia decisão de
fabricá-lo ali ajudou a aproveitar a capacidade das instalações e a
salvaguardar o emprego dos funcionários.
Leiding descreveu assim a situação que encontrou: “A força de trabalho perdeu totalmente o ânimo [...]. A preocupação com os custos praticamente inexiste em muitos departamentos da empresa [...]. Temos um árduo trabalho pela frente até que todos os departamentos compreendam o princípio da contenção de despesas.”
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O Audi
100, por Marco Antônio Oliveira |
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A DKW foi a primeira empresa a realmente colocar as vantagens da tração dianteira em prática, colocando a maior parte do peso do veículo sobre as rodas motrizes, e criando carros onde a capacidade de tração, a estabilidade e a segurança ativa eram sensacionais. Em países com neve, era uma revelação, tanto que na Suécia serviriam de base e inspiração para os então novos Saab. Equipados no pós-guerra com pequenos tricilíndricos em linha a dois tempos, os DKW também eram velozes relativamente à sua cilindrada. Em 1959, o controle da empresa passa para a Daimler-Benz, que procurava principalmente fábricas para expandir sua própria produção de automóveis e caminhões Mercedes-Benz. Mas como os pequenos DKW’s ainda vendiam bem, e não concorriam diretamente com os Mercedes, a empresa resolveu tentar manter a marca como uma diversificação de portfólio. |
Em 1963, aparecia uma nova geração de DKW: o F102 (ao lado). O carro era uma grande evolução, mas ainda mantendo os conceitos básicos de tração dianteira e motor tricilíndrico a dois tempos que tornaram a marca amada por uma legião de fãs. O motor agora deslocava 1.175 cm³ (81 x 76 mm), consumia pouquíssimo óleo lubrificante e dava 60 cv a 4.500 rpm. O resto do carro era bem diferente do DKW que conhecemos aqui, porém. Uma carroceria de desenho moderno, monobloco, levava suspensões dianteiras de duplo A sobreposto (mas com colunas de mola/amortecedores parecidas com uma Mcpherson), e traseira por eixo de torção. Freios a disco dianteiros eram montados inboard, próximos à transmissão. |
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Pequeno parêntese aqui para falar sobre freios inboard. Nos anos 50 e 60, esta maneira de posicionar os freios parecia ser o futuro. Tirar tambores e/ou discos das rodas diminuía a massa não suspensa, e, sendo esses componentes ontem e hoje consideravelmente pesados, melhorava muito o comportamento do carro. É fácil perceber isso praticamente: coloque uma roda maior e/ou mais pesada no seu carro e veja como o controle da suspensão sobre a dita roda piora sensivelmente. Mas hoje se sabe que o freio, sendo ele um transformador de energia cinética em energia térmica essencialmente, precisa de refrigeração para funcionar bem, e colocá-lo perto de um ou dois grandes geradores de calor (o motor e/ou transmissão), e dentro do carro onde a ventilação é sempre pior, não é realmente uma boa idéia... Mas voltando ao F102, o moderno carro de dois tempos da DKW infelizmente não seria um sucesso. Dois tempos estava se tornando sinônimo de ultrapassado, e além disso o desempenho do F102 deixava a desejar, demorando 20 segundos para chegar a 100 km/h e chegando a pouco mais de 130 km/h de final. Estes números eram suficientes para os antigos Sonderklasse, mas nos anos 60, a barra havia subido. As vendas ficaram muito longe do esperado, provocando uma forte crise financeira na empresa, que culminou com a sua venda para a VW em 1964. |
Mas enquanto essa venda não
acontecia, entrava em cena na nossa história um personagem importante: Dr
Ludwig Krauss. Vindo da Daimler-Benz, este engenheiro tinha uma idéia
genial: colocar um moderno quatro em linha de quatro tempos no F102, e assim
conseguir um carro ao mesmo tempo bem desenvolvido (a DKW fazia tração
dianteira desde 1932) e moderníssimo. Abandonar o ultrapassado dois tempos
era um caminho para aproveitar-se das outras várias qualidades do F102, e
dos DKW desde sempre. |
Colocar o quatro cilindros
de quatro tempos no mesmo lugar que um três em linha de dois tempos não foi
nada fácil. O lugar para o radiador, em frente ao motor, sumiu, obrigando a
inclinação do motor para a direita, e a montagem do radiador a seu lado, em
ângulo em relação ao carro, e não paralelo a grade dianteira como mais
comum. Lançado com o nome de Audi apenas, para reviver uma das marcas da Auto Union do pré-guerra e diferenciá-lo dos DKW dois tempos, foi imediato sucesso. Mas este lançamento coincide historicamente com a compra da Auto Union pela VW (ambos em 1965), e mesmo tendo planejado uma nova e renovada linha de Audis baseada no F103, Krauss teve suas ambições refreadas pela cultura da empresa de Wolfsburg, personificada em Heinz Nordhoff. |
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Como vimos há pouco, em 1965 o projeto do 411 iniciara dentro da VW, um carro que no pensamento da companhia perpetuaria o motor traseiro de Porsche, assim como o 911 o faria (e fez) para a Porsche. Nordhoff deu ordens para que o desenvolvimento de novos Audi parasse de imediato, pois concorreriam com seus futuros VW. Mas Krauss (acima) sabia que o caminho que trilhava a VW era sem um beco sem saída. Sabia por experiência própria com os dois tempos da DKW que a perseguição cega deste tipo de tradição estava fadada ao fracasso. E como o Audi grande que planejava era um desenvolvimento barato, derivado que era do F103, resolveu seguir o com projeto. Escondido, à surdina, sem aprovação de seus chefes, algo temerário e arriscado, sim, mas que ele acreditava valer à pena. Então, quando o primeiro protótipo estava pronto, acertadinho, lavado, brilhando e perfumado, chamou Heinz Nordhoff para experimentá-lo. |
Nordhoff, que não era bobo, sentindo quão bom
era o carro, quão barato seria fazer uma versão maior de um carro existente
e ferramentado, e quão entusiasmados estavam seus criadores, resolve dar
permissão para que o projeto fosse às ruas. Em 1968, aparece então o Audi
100 (abaixo).
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Com 1.760 cm³ (81,5 x 84,4 mm) e 80 cv a 5.000 rpm, o carro foi muito bem recebido, ao contrário do VW 411, e, junto com a precoce morte de Nordhoff, selou um novo futuro para a VW. Krauss logo começou o projeto do substituto do F103, agora renomeado Audi 75 (o número era a potência; logo existiriam outras versões do mesmo carro chamadas de 60, 80 e Super 90), onde o layout básico do DKW, e o mitteldrückenmotor de origem Daimler-Benz seriam evoluídos e aperfeiçoados. Nascia novo motor chamado de EA-827, que seria a base de todo VW e Audi durante os próximos 20 anos. A posição inclinada usada no do mitteldrückenmotor era mantida, e o radiador continuava a seu lado, só que agora paralelo à grade dianteira, e não atravessado no cofre como no F103. Os freios passavam às rodas, e a suspensão passava a ser a menos “espaçosa” e mais barata, mas igualmente eficiente McPherson. |
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O carro resultante, lançado em 1972, foi chamado Audi 80 (agora um nome, e não mais potência, acima), e foi um daqueles carros que mudam tudo, uma nova referência em sua categoria. A imprensa adorou-o e o encheu de prêmios, o público também, tornando-o sonho da classe média alemã dos anos 70. A empresa de Wolfsburg por fim colocou logotipos VW no carro, derivando algumas carrocerias diferentes, e o chamou de Passat. O Passat substituiu o 411/412, e o Golf, lançado também em 1974, substituiria o Fusca em 1978. Nascia uma nova VW. |
Texto original: http://autoentusiastas.blogspot.com.br/2011/11/vw-411-audi-100-nsu-ro80-e-uma-nova-vw.html