Auto Union no Brasil
 

A história da Auto Union em nosso país começa em 1935, quando o barão Claus Detlov von Oertzen deixa a direção da Auto Union, na Alemanha. Sua saída deveu-se à criminalização crescente do regime nazista. Embora não fosse judeu, Oertzen era casado com uma mulher proveniente do povo judeu. Tornou-se persona non grata ao regime e começou a correr perigo de vida. A Auto Union o ajudou a sair apressadamente da Alemanha e ele veio para a America do Sul. Von Oertzen passa então a organizar a exportação de carros da Auto Union para países abaixo do Equador - América do Sul, Ásia e Austrália. Também foi responsável pela implantação da Auto Union na Africa do Sul.

 

No dia 08 de agosto de 1935 era publicado no Diário Oficial da União, o registro da Auto Union Brasil Ltda, "firma camposta dos sócios quotistas Klaus Detlof Von Oertzen, William Werner, Erich Astheimar e Peter Schagen, para o commercio de importação e venda por conta propria de automoveis, etc.. à rua do Mexico nr. 142, com capital de 100:000$000, prazo indeterminado." (ao lado)
A sede social da companhia ficava na Rua México, mas a assistência técnica era prestada na Rua Bento Lisboa, sendo posteriormente transferida para a Rua Riachuelo.

 

Depoimentos de antigos mecânicos de DKW, já falecidos, faziam referencia também a uma oficina da Auto Union na rua Evaristo da Veiga (Rio de Janeiro), de fronte ao Quartel General da PM.


Não encontramos registros desta oficina e o suposto prédio onde poderia ter funcionado (foto ao lado, entrada do antigo estacionamento da Mesbla) foi recentemente demolido (2012) para construção de um prédio comercial.

Também para Brasil foi enviado Walter Krug, um competente vendedor e administrador da Auto Union e antigo administrador da fábrica em Berlim. Segundo Paulo Cesar Sandler, autor do livro " DKW - A Grande História da Pequena Maravilha", Krug no Brasil "encontrou um país onde a motorização era feita por Ford e Chevrolet, e foi muito difícil implantar uma mentalidade no comprador que aceitasse o pequeno dois tempos. Krug conseguiu isso, o DKW logo ganhou respeito do comprador brasileiro. Com isso, abriu caminho para todos os outros pequenos carros europeus - fato que nunca vi ser ressaltado na literatura disponível".

 

Uma análise dos anúncios publicitários da Auto Union no Brasil, no período que antecede a II Guerra Mundial, fornece alguns indícios sobre a estratégia de marketing adotada na promoção dos veículos e das marcas importadas pela Auto Union Brasil e pela Bremensis. 

 

1935

Em 1935, predominam anúncios do tipo institucional da Auto Union e das 4 marcas do grupo.

Digno de nota a forte associação das 4 marcas do grupo com os resultados nas pistas do carro de corrida "Auto Union".

No anúncio a esquerda, publicado no jornal Correio Paulistano de 22 de dezembro de 1935, em São Paulo, a firma "Sociedade Technica Bremensis Ltda" aparece como importadora dos veículos Auto Union que encontravam-se expostos à venda pelo revendedor "Almeida & Veiga".

A Bremensis detinha a representação da Auto Union nos Estados de São Paulo e Paraná, enquanto a Auto Union Brasil, no Rio de Janeiro, anunciava que possuía agentes em São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Bahia, Recife, Corumbá, Joinville e Fortaleza.

 

 

 

 

Na Bremensis, trabalharam dois profissionais que viriam, posteriormente, desenvolver importantes atividades com DKW no Brasil.

O primeiro foi Bruno Tress, que no inicio dos anos 1930 na Bremensis, ocupou o cargo de chefe da seção de automóveis DKW, a cujas vendas deu grande impulso. Deixando a Bremensis anos depois, Bruno Tress dedicou-se por conta própria a importação de automóveis e motocicletas DKW, na cidade de São Paulo, até a paralisação completa das importações devido à Guerra de 1939-1945. Montou então uma pequena oficina destinada à fabricação de peças para automóveis e motocicletas DKW, bem como a consertos de outros veículos de procedência européia, iniciando também uma longa e proveitosa parceria com a Volkswagen.

Outro profissional foi Frederico Witzke que, após chefiar a oficina DKW da Bremensis de 1937 a 1945, fundou seu próprio negócio, a Oficina Mecânica Frederico, autorizada da Auto Union desde 1951, cujo endereço atual encontra-se na seção "Peças e Serviços DKW".

 

1936

Em 1936, continua o marketing associado às competições, não apenas em relação as corridas na Europa, mas também no Brasil, como pode ser visto no anuncio a esquerda, para promoção da marca WANDERER.

E também começava uma forte promoção de venda dos carros Horch no País. A Auto Union Brasil anunciava que possuía "representações e depósitos de peças sobressalentes em todos os Estados do Brasil".

 

 

 

 

Também neste ano, 1936, inicia-se a promoção e venda das motocicletas DKW no Brasil. As mensagens publicitárias enfatizam, tal como nos automóveis, as conquistas esportivas. Nesta época, a Auto Union já era o maior fabricante mundial de motocicletas.

 

 

1937

A associação com o esporte permanece, mas agora com a adoção, também, de técnicas de "merchandising", aqui entendido como uma prática de inclusão sutil de uma marca, empresa ou produto em um espaço não destinado à publicidade.

Esta técnica leva vantagem sobre os anúncios convencionais por ser "digerida" mais facilmente pelo público.

A matéria abaixo, publicada no jornal Correio Paulistano de 21 de novembro de 1937 como uma simples "reportagem esportiva", não consegue esconder seu dissimulado conteúdo publicitário.

Como pode ser constatado, a marca AUDI não foi mencionada, parecendo não haver interesse em divulgá-la no Brasil.

                  

A marca AUDI somente aparecia ao lado das outras marcas na promoção do nome "Auto Union".

Também em 1937 inicia-se a promoção e venda do furgão "DKW Carro Entrega" (anúncios abaixo e a direita)

 

 

         

 

 

 

Novamente, a promoção da marca WANDERER é associada a participação em corridas no Brasil (anuncio a direita e abaixo).

 

 
     

 

1938

A Bremensis, em São Paulo, inaugura uma nova seção para venda dos automóveis e motocicletas da Auto Union, mas faz questão de registrar que a firma "Almeida & Veiga" continuava como distribuidora dos automóveis do grupo.

A marca AUDI novamente é omitida (anuncio abaixo).

No Rio de Janeiro, a Auto Union Brasil passa a contar com um novo representante na cidade, a "Commercial Metropolitana" (anuncio ao lado). E também no segmento motociclistico, são enaltecidos os resultados nas pistas (anuncio abaixo a direita)

 

   

 

 

 

 

A matéria ao lado foi publicada em São Luiz (MA) no periódico "Pacotilha" em 30 de novembro de 1938 em agradecimento ao recebimento da revista "Auto Union" (impressa em 5 idiomas!) enviada pelo distribuidor local, B. van Mustwyk & Cia. cuja sede localizava-se na Rua Candido Mendes 82 da capital maranhense.

 

       

              

 

 

 

Ao lado, instalações do representante Auto Union no Estado da Paraíba, a Agencia Germania Importadora.

 

1939
 
 

 

No anuncio ao lado, apesar do enaltecimento aos 40 anos de aperfeiçoamento do automóvel estar associado à fundação da Horch em 1899, não há menção a esta marca e muito menos a marca Audi, que continuava sem promoção no Brasil, como também pode ser observado no anuncio da Bremensis abaixo, a direita.

 

 

Walter Krug permaneceu no Brasil durante a guerra, mas desde 1940 não mais se importavam os produtos Auto Union.

Somente em 1950, Krug voltaria a organizar um serviço de importação e manutenção de DKW.

1940   1941

Com o conflito na Europa, cessam as importações dos veículos Auto Union no País.

            

 

O começo do fim, com a inclusão da Auto Union Brasil e da Bremensis na "Lista Negra" de empreendimentos alemães na América Latina, elaborada pelo governo Roosevelt.

Clique no título da matéria abaixo para ler a reportagem completa, publicada no Correio da Manhã de 18 de julho de 1941.

 

 

1943   1944

    

 

1945
A Auto Union Brasil é formalmente liquidada no País.

        

Anúncios da oficina mecânica Mencarini, de propriedade do pai dos irmãos Mencarini que até hoje trabalham com DKW no Rio de Janeiro (endereço atual está na seção Peças e Serviços DKW)

 

 

1946

 

A Auto Central, que tinha adquirido o estoque de peças da Auto Union Brasil durante a liquidação da empresa, anunciava que voltaria a entregar novos veículos em 1947.

Mas a Auto Union G.m.b.H somente restabeleceria suas operações na Alemanha Ocidental a partir de 1949...

 

            

 

 

1947

 

Em andamento na Alemanha, inquerito sobre as atividades no exterior do grupo Auto Union A.G.

Clique na imagem ao lado para ler a declaração do gerente de exportação da Auto Union sobre as operações da empresa no exterior (inclusive no Brasil) e, na sequencia, o relatorio final feito pelos americanos.

            

 

 

1948   1949
  Anúncios de venda de veículos Auto Union publicados na imprensa carioca, inclusive um DKW 1940 "último modelo" (antes do termino das importações), na oficina da rua 2 de dezembro do "Seu Adolf", pioneiro mecânico alemão no Rio de Janeiro.

No inicio dos anos 1950, enquanto a Auto Union lutava por se reerguer na Alemanha, Walter Krug, ainda solidamente ligado aos dirigentes da empresa e benquisto no Brasil, montou a Companhia Auto Lux com sede social no Rio de Janeiro (Av. Evaristo da Veiga 130) e com filiais em São Paulo (Al. Eduardo Prado 460/77), em Belo Horizonte (Rua São Paulo 276) e em Juiz de Fora (Rua Halfeld 316). Não se tratava de uma filial Auto Union como antes da guerra, mas uma importadora-revendedora, de propriedade de Krug e de outros sócios brasileiros.

Em instalações de 2.000 m², a Auto Lux mantinha em São Paulo uma oficina de manutenção e deposito de peças; além dos 1.000 m² que eram usados para um salão de exposição, lavagem e lubrificação.

 

Modelos DKW F89-P e F89-L  Schnellaster no salão de exposição.

 

Cem DKW's, entre F-89 P (o sedã recém-lançado na Alemanha) e F-89L (a perua Schnellaster, que jamais foi chamada assim no Brasil) entraram no país pelo porto de Santos (foto a esquerda).

Aproximadamente 500 carros foram importados até 1952.

 

Uma subsidiária da Auto-Lux também foi montada em Recife.

 

Alem da representação da Auto Union no País, a Cia Auto Lux também importava os caminhões "Diamont-T" (montados nas oficinas da Auto-Lux na Av. Brasil 9875, no Rio de Janeiro), geladeiras inglesas "Ritemp", máquinas de costura "White Lily" e máquinas austríacas de solda elétrica "Elin".

 

 
1951

                                                   

 

 

 

 

Anuncio de um modelo

Horch 1939 conversível,

 publicado no "Jornal do Brasil"

de 10 de março de 1951,

 no Rio de Janeiro:

 

                             

 

 

Fotos do lançamento dos automóveis DKW, promovido pela filial da Auto Lux em Juiz de Fora (MG)
 
 

 

1952
      

 

1953   1954

No dia 21 de agosto de 1953 era registrada em cartório a escritura de constituição da "Indústria e Comercio Auto Union S.A." com participação acionária de Walter Krug (40%), Otto Morgenthaler (10%), Gunther Hipper (5%), Octavio Mendes da Silva Guimarães (2%), Hans Eschweller (1%), Sixt von Kapff (2%) e Mary Margaret Krug (40%).

A sede e o foro da sociedade ficava no Rio de Janeiro, "podendo ser estabelecidas, a critério da Diretoria, filiais, agências, depósitos e dependências em outros pontos do país".

 

Clique aqui para ver a publicação da escritura de constituição da "Indústria e Comercio Auto Union S.A."

 

 

 

1955
Anuncio publicado no "Diário de Notícias" (Rio de Janeiro) em 27 de fevereiro de 1955, mostra a "Distribuidora Vemag" como "concessionária" da "Ind. e Com. Auto Union":

A noticia abaixo foi publicada no jornal carioca "Diário de Noticias" em 30 de setembro de 1955.

 

 

Anúncios de venda de veículos DKW publicados "Jornal do Brasil", no Rio de Janeiro:

 

                     

 

         

 

 

Em 1955, face à iminente formação do GEIA e restrição a importação de veículos, Walter Krug enfrentava dificuldades para importar seus DKWs pela Auto Lux. Em contato com Domingos Fernandes Alonso, o empreendedor que criou a Vemag, Krug lhe disse que a Auto Union lutava por se firmar no mercado e que tinha não só confiança no Brasil, mas estímulos do governo alemão para vendas no exterior.

Por meio de Krug, Fernandes percebeu o interesse da Auto Union que, em Ingolstadt, estava tentando seguir os passos da Volkswagen, no sentido de conquistar mercados novos com a instalação de fábricas em outros países.

A Vemag negociou então, em fevereiro de 1955, a importação de prensas e ferramental de uma pequena perua de nome comprido, a Sonderklasse Kombiwagen Universal F-91, que fora fabricada de 1953 a 1955, na Alemanha.

Em novembro de 1956, a Vemag conseguia colocar no mercado brasileiro aquele que pode ser considerado como o verdadeiro pioneiro: o DKW Vemag.

Esta página foi escrita com informações e fotos extraídas do livro "DKW - A Grande História da Pequena Maravilha", de Paulo Cesar Sandler (Ed. Alaúde) e de pesquisas na Internet. Agradecemos aos jornalistas Jason Vogel e Flavio Gomes/Luis Fernando Souza, o primeiro pelo anuncio publicitário recebido e os segundos pelas fotos de apresentação dos DKWs em Juiz de Fora.

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